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Nacionales Galiza :: 31/01/2013

[Gal/Cast] Causa Operária entrevista a Mauricio Castro, editor de 'Diario Liberdade'

Causa Operária
"Somos la nación oprimida (Galiza) que en términos objetivos más necesita recuperar la plena soberanía nacional, la independencia"

Galego

Causa Operária entrevista Maurício Castro, nascido na Galiza, editor e fundador do Diário Liberdade em 2009. Licenciado em Filologia Galego-Portuguesa professor de Português em Ferrol, Galiza, faz parte da esquerda independentista e anticapitalista galega e também do movimento social pela recuperação dos direitos linguísticos do seu povo. Publicou diferentes livros de temática linguística e sociolinguística, alguns dos quais estão disponíveis online no blog (http:// fromgaliza.tumblr.com/)

Causa Operária: A maioria das pessoas no Brasil tem a ideia de que a Espanha é um país consolidado. O que poderia comentar sobre as comunidades que compõem o Reino Espanhol?

Maurício Castro: Teria de dizer que o Estado espanhol tem uma história convulsa e forjada, primeiro na conquista e no espólio de grande número de povos, muitos dos quais no continente americano, como vocês sabem bem. Mas, já a partir do século XIX, começou uma progressiva perda de territórios que impediu a consolidação do projeto imperialista que o Reino da Espanha sempre representou. Ainda em datas recentes, continuou a perder o domínio sobre povos africanos previamente colonizados, como a Guiné Equatorial (1968) e Saara Ocidental (1978), que até esse momento eram parte supostamente “indivisível” da nação espanhola.

Portanto, a instabilidade do projeto nacional espanhol é uma constante e sua redução territorial uma tendência até hoje impossível de parar. O Reino da Espanha continua sendo um espaço territorialmente descontínuo, com territórios dominados em África (Ceuta, Melilha) e nas suas redondezas (Ilhas Canárias), assim como na própria Península Ibérica (Galiza, Catalunha, País Basco...). Em todos esses casos, existem movimentos progressistas e revolucionários que lutam pela soberania nacional, tal como antes fizeram os povos americanos e também africanos. É um processo aberto no século XIX e ainda inacabado, daí as convulsões permanentes que nessa matéria sacodem o Estado espanhol e que só em uma pequena parte têm eco na mídia internacional.

Causa Operária: Em sua opinião, por que a Galiza deveria formar parte dos países lusófonos e como ela foi integrada no Reino Espanhol?

Maurício Castro: A Galiza foi, em uma etapa tão antiga como o século V da nossa era, o primeiro reino constituído como tal na Europa Ocidental, com o nome de Reino Suevo da Galiza abrangendo o norte do que atualmente é Portugal. Foi nesse espaço que nasceu, no século IX, a língua que hoje é mundialmente conhecida pelo nome de ‘português’, e que na altura se chamava ‘galego’, tal como na atualidade continua se chamando no nosso país. Desde então, a Galiza não deixou de falar sua língua, apesar de que já no século XII se produziu o rompimento da parte sul do país, que originaria uma nova nação chamada Portugal. A Galiza e Portugal partilham até a atualidade um idioma comum, falado com particularidades próprias nos dois casos, tal como acontece no Brasil, desde que a nossa língua foi aí levada pelo imperialismo português.

A queda progressiva da Galiza na órbita política institucional castelhana-espanhola fez com que o castelhano fosse imposto nas instituições galegas, assim como na educação e demais âmbitos da nossa vida social. Contudo, o galego (português da Galiza) manteve-se como língua majoritária do nosso povo até hoje, em que a força das novas tecnologias e a universalização educativa e midiática em espanhol põe em grave risco a sobrevivência da nossa língua.

O movimento independentista galego defende a reorientação da Galiza para o âmbito lusófono porque, além de fazermos geneticamente parte desse mundo como nação fundadora da língua portuguesa, isso vai reforçar as nossas possibilidades de recuperação total a nível linguístico e também dos nossos direitos nacionais face ao imperialismo espanhol.

Hoje é fundamental para nós contarmos com o apoio tanto do povo português como do povo brasileiro, povos irmãos de língua que podem ser determinantes no nosso processo de emancipação linguística, cultural e nacional da Galiza.

Causa Operária: Qual é o impacto da crise econômica e das políticas da Administração Central sobre a comunidade da Galiza?

Maurício Castro: A Galiza foi desde muito cedo espoliada pelo imperialismo primeiro castelhano e depois espanhol, jogando um rol, sobretudo de fornecedora de matérias-primas para a metrópole, um papel típico dos contextos coloniais. As nossas classes dirigentes foram cooptadas pela oligarquia espanhola desde o início da Idade Moderna e na atualidade a burguesia galega tem um papel intermediário e subsidiário em relação a essa oligarquia negadora dos nossos direitos nacionais. A Galiza tem ocupado tradicionalmente os piores postos em todo o tipo de parâmetros de desenvolvimento econômico e social dentro do Estado espanhol, a partir da nossa incorporação em precário ao capitalismo industrial no século XIX e até a atualidade. Contrariamente ao que aconteceu no País Basco e na Catalunha, que são motores do desenvolvimento capitalista espanhol, a Galiza tem sido no último século e meio uma das áreas menos desenvolvidas e mais castigadas pela condição dependente, daí que o nível de consciência nacional seja também inferior ao existente no País Basco e na Catalunha.

Somos, por isso, a nação oprimida que em termos objetivos mais necessita de recuperar a plena soberania nacional, a independência, mas a que enfrenta maiores dificuldades devido ao fator subjetivo, de consciência nacional, por um brutal processo de imposição espanhola.

Causa Operária: Qual tem sido a participação das massas trabalhadoras galegas contra os planos de austeridades promovidos pelo PSOE e agora pelo PP (Partido Popular)? Como tem sido a coordenação entre os movimentos e sindicatos da nação galega com as demais comunidades do Estado espanhol?

Maurício Castro: Na Galiza, o movimento pela recuperação dos direitos nacionais tem tido sempre uma clara definição de classe, impulsionado pela classe trabalhadora. Tem caráter nitidamente progressista já desde o século XIX e, a partir dos anos 60 do século XX, o peso operário e marxista tem sido determinante na orientação e fortalecimento do movimento, com muita força no âmbito trabalhista e sindical.

Simplificando, podemos dizer que, no nosso país, a direita é pró-espanhola e a esquerda majoritariamente defensora da identidade e dos direitos galegos. Na atual crise, esse princípio está sendo confirmado e a Galiza é um dos territórios integrados no Estado espanhol que mais está saindo à rua, mobilizando-se contra a ofensiva reacionária que lidera o Governo espanhol. É claro que o grau de mobilização não é ainda suficiente para modificar a correlação de forças, mas a Galiza está apresentando uma significativa resistência aos planos aplicados pelo grande capital europeu e espanhol contra o nosso povo.

A coordenação com outras nações do Estado espanhol existe, mas costuma ser dificultada pelo afã dominador existente nas direções partidárias e sindicais da esquerda centralista espanhola, pouco respeitosa em relação à realidade e aos ritmos diferentes que a diversidade nacional impõe.

Causa Operária: Como o ascenso dos movimentos independentistas nas comunidades reflete a crise política do Reino Espanhol?

Maurício Castro: Como já disse, as lutas nacionais no interior do Estado espanhol vêm já do século XIX e nunca se detiveram. A ditadura franquista (1936-1975) foi em grande medida uma brutal resposta da classe dominante espanhola contra essas lutas pela emancipação nacional, sobretudo no País Basco, Catalunha e Galiza. No nosso país, essa ditadura militar fez muitos milhares de mortos, desaparecidos e represálias, liquidando os setores mais comprometidos com o progresso e com a liberdade do nosso país. Porém, a luta tem continuado até hoje, uma vez que a restauração monárquica que se seguiu à ditadura também deixou sem resolver a questão nacional.

É verdade que a crise sistêmica capitalista em curso está mostrando como a oligarquia espanhola aplica, através dos governos ao seu serviço, não só os programas de cortes sociais, mas também uma planificada recentralização para tentar impor a espanholização aos povos submetidos pelo imperialismo espanhol.

Nessa medida, os setores das burguesias basca e catalã favoráveis à soberania dessas nações estão reclamando a independência, respondendo a uma ânsia popular majoritária no caso dessas duas nações. No caso galego, com a burguesia totalmente dobrada ante a poderosa oligarquia espanhola, são os setores populares que mantêm as reivindicações nacionais, ligando-as com uma saída à crise oposta aos interesses das transnacionais e do capital financeiro.

Causa Operária: Qual é a situação atual do movimento independentista galego? Como poderia ser comparado com a situação na Catalunha e no País Basco?

Maurício Castro: O traço distintivo galego em relação ao catalão e ao basco é a presença de uma burguesia totalmente vendida ao núcleo de poder espanhol imposto ao nosso país. Contrariamente à Catalunha e ao País Basco, onde as burguesias estão divididas entre segmentos pró-espanhóis e independentistas, o que torna a reivindicação nacional mais transversal, na Galiza a reivindicação independentista está só em mãos do povo trabalhador.

Além disso, a Galiza caiu historicamente mais cedo sob o domínio castelhano-espanhol, sendo submetida a um processo mais prolongado e brutal de submetimento nacional.

Esse processo histórico não conseguiu liquidar os traços objetivos que definem a Galiza como a nação mais claramente diferencial relativamente ao padrão espanhol, mas sim abalou seriamente a componente subjetiva, que é a mais importante na hora de tornar viável um processo de construção nacional.

Isso explica que o galego seja hoje um povo claramente diferençável do ponto de vista objetivo, nos seus traços linguísticos, culturais, até geográficos e climáticos no quadro da Península Ibérica. No entanto, o nosso povo arrasta em simultâneo uma condição típica dos contextos coloniais, definida como de “auto-ódio” ou “auto-negação”, vendo como as elites nacionais negam a nossa condição nacional e se entregam aos interesses dos nossos inimigos históricos.

A luta pela independência galega enfrenta assim maiores dificuldades que a basca e catalã. Além disso, as clássicas divisões da esquerda têm reflexo em um movimento pela soberania galega também fragmentado e castigado por uma implacável repressão por parte do Estado espanhol.

Causa Operária: Em sua opinião, qual é o impacto que o movimento independentista no Reino Espanhol poderá ter sobre os demais países da União Europeia onde existem problemas nacionais pendentes?

Maurício Castro: A presença de conflitos nacionais não é exclusiva do Reino de Espanha. Em toda a Europa ocidental existem conflitos decorrentes dos imperfeitos processos de formação dos estados-nação, a partir do que o antropólogo Benedict Anderson denominou “capitalismo editorial”, no século XVI.

Os povos marginalizados por tais processos lutaram com diferente fortuna pela sua sobrevivência, conseguindo alguns deles a emancipação em relação a espaços estatais maiores ao longo dos séculos seguintes.

Alguns dos que não o conseguiram, como a Galiza, mantiveram essa luta até a atualidade. Temos o caso irlandês, cuja independência (parcial) só foi conseguida em 1921, mas também outros que continuam nesse caminho pela liberdade nacional, como a Escócia, a Córsega ou a Flandres. Trata-se, portanto, de uma problemática continental aberta e que, naturalmente, provoca influências mútuas entre os diferentes cenários de confronto.

O atual avanço por parte da Catalunha ou da Escócia para posições de independência pode ajudar a que outras nações oprimidas também experimentem progressos no fator subjetivo, imprescindível para que a condição de dependência objetiva possa vir a ser quebrada.

Causa Operária: Você gostaria de fazer um comentário final?

Maurício Castro: Quero agradecer o interesse pela questão nacional galega, já que, como vocês sabem bem, é um assunto mal conhecido no Brasil e por vezes identificado com posições reacionárias, o que no caso galego é uma grave distorção da realidade.

É fundamental para nós, galegos e galegas, conseguirmos que o povo brasileiro tome consciência da existência do nosso povo e da identidade linguística que nos une ao Brasil.

A solidariedade brasileira com a causa do povo galego pode contribuir de maneira determinante para nossa emancipação no caminho da independência e do socialismo.

Por isso faço um apelo às diferentes correntes da esquerda revolucionária e ao conjunto do povo trabalhador brasileiro para que conheça a nossa realidade e apoie a nossa luta.Galiza-PCO- "Somos la nación oprimida que en términos objetivos más necesita recuperar la plena soberanía nacional, la independencia".


Castellano

"Somos la nación oprimida que en términos objetivos más necesita recuperar la plenas soberanía nacional, la independencia".

Causa Operaria entrevista a Mauricio Castro, nacido en Galiza, editor y fundador del Diario Liberdade en 2009. Licenciado en Filología Galego-portuguesa y profesor de portugués en Ferrol, Galiza, forma parte de la izquierda independentista y anticapitalista galega y también del movimiento social por la recuperación de los derechos lingüísticos de su pueblo. Ha publicado diferentes libros de temática lingüística y sociolingüística, algunos de los cuales están disponibles online en el blog (http://fromgaliza.tumblr.com/)

Causa Operaria: La mayoría de las personas en Brasil tienen la idea de que España es un país consolidado. ¿Que podrías comentar sobre las comunidades que componen el Reino Español?

Mauricio Castro: Tendría que decir que el Estado español tiene una historia convulsa y forjada primero en la conquista y en el expolio de gran número de pueblos, muchos de estos en el continente americano, como sabéis. Pero, a partir del siglo XIX, comenzó una progresiva pérdida de territorios que impidió la consolidación del proyecto imperialista que el Reino de España siempre representó. Aún en fechas recientes, continuó perdiendo el dominio sobre los pueblos africanos previamente colonizados, como Guinea Ecuatorial (1968) el Sáhara Occidental (1978), que hasta ese momento eran parte supuestamente "indivisible" de la nación española.

Por lo tanto, la inestabilidad del proyecto nacional es una constante y su reducción territorial una tendencia hasta hoy imposible de detener. El Reino de España continúa siendo un espacio territorialmente discontínuo, con territorios dominados en África (Ceuta y Melilla) y en sus alrededores (Islas Canarias), así como en la propia Península Ibérica (Galiza, Cataluña, País Vasco...) En todos estos casos, existen movimientos progresistas y revolucionarios que luchan por la soberanía nacional, tal como antes hicieran los pueblos americanos y también africanos. Es un proceso abierto en el siglo XIX y aún inacabado, de ahí las convulsiones permanentes que en esta materia sacuden al Estado español y que sólo en una pequeña parte tiene eco en los media internacionales.

Causa Operaria: En su opinión ¿Por qué Galiza debería formar parte de los países lusófonos y de qué manera fue integrada en el Reino Español?

Maurício Castro. Galiza fue, en una etapa tan lejana en el tiempo como el siglo V de nuestra era, el primer reino constituido como tal en Europa Occidental con el nombre de Reino Suevo de Galiza abarcando el norte de lo que actualmente es Portugal. Fue en ese espacio que nació, en el siglo IX, la lengua que hoy es mundialmente conocida con el nombre de "portugués", y que en aquel momento se llamaba "galego", tal como en la actualidad se continúa llamando en nuestro país. Desde entonces, Galiza no ha dejado de hablar su lengua, a pesar de que ya en el siglo XII se produjo la ruptura de la parte sur del país, que originaría una nueva nación llamada Portugal. Galiza y Portugal comparten hasta la actualidad un idioma común, hablado con particularidades propias en los dos casos, tal como sucede en Brasil, desde que nuestra lengua fue ahí llevada por el imperialismo portugués.

La caída progresiva en la órbita política institucional castellana-española hizo que el castellano fuese impuesto en las instituciones galegas, así como en la educación y demás ámbitos de nuestra vida social. Aún así, el galego (portugués de Galiza) se mantuvo como lengua mayoritaria de nuestro pueblo hasta hoy, en que la fuerza de las nuevas tecnologías y la universalización educativa y mediática en español pone en grave riesgo la sobrevivencia de nuestra lengua.

El movimiento independentista galego defiende la reorientación de Galiza para el ámbito lusófono porque, además de hacernos genéticamente parte de este mundo como nación fundadora de la lengua portuguesa, reforzaría nuestras posibilidades de recuperación total a nivel lingüístico y también de nuestros derechos nacionales hacia el imperialismo español.

Hoy es fundamental poder contrar con el apoyo, tanto del pueblo portugués como del pueblo brasileño, pueblos hermanos de lengua que pueden ser determinantes en nuestro proceso de emancipación lingüística, cultural y nacional de Galiza.

Causa Operaria: ¿Cuál es el impacto de la crisis económica y de las políticas de la Administración Central sobre Galiza?

Mauricio Castro. Galiza fue muy tempranamente expoliada por el imperialismo castellano y después por el español, jugando un rol, sobre todo de abastecedora de materias primas para la metrópoli, un papel típico de los contextos coloniales. Nuestras clases dirigentes fueron cooptadas por la oligarquía española desde el inicio de la Edad Moderna y en la actualidad la burguesía galega tiene un papel intermediario y subsidiario en relación a esa oligarquía negadora de nuestros derechos nacionales.

Galiza ha ocupado tradicionalmente los peores puestos en todo tipo de parámetros de desarrollo económico y social dentro del Estado español, a partir de nuestra incorporación en precario al capitalismo industrial en el siglo XIX hasta la actualidad. Contrariamente a lo que sucede en el País Vasco y en Cataluña, que son motores del desarrollo capitalista español, Galiza ha sido en el último siglo y medio una de las áreas menos desarrolladas y más castigadas por la condición de dependiente, de ahí que el nivel de conciencia nacional sea también inferior al existente en el País Vasco y Cataluña.

Somos, por eso, la nación oprimida que en términos objetivos más necesita recuperar la plena soberanía nacional, la independencia, pero que se enfrenta a mayores dificultades debido al factor subjetivo, de conciencia nacional, por un brutal proceso de imposición española.

Causa Operaria: ¿Cuál. ha sido la participación de las masas trabajadoras galegas contra los planos de austeridad promovidos por el PSOE y ahora por el PP (Partido Popular)? Cómo se ha desarrollado la coordinación entre los movimientos y sindicatos de la nación galega con las demás comunidades el Estado español.

Maurício Castro. En Galiza, el movimiento por la recuperación de los derechos nacionales ha tenido siempre una clara definición de clase, impulsado por la clase trabajadora. Tiene un carácter nítidamente progresista ya desde el siglo XIX y, a partir de los años 60 del siglo XX, el peso obrero y marxista ha sido determinante en la orientación y fortalecimiento del movimiento, con mucha fuerza en el ámbito de los trabajadores y sindical.

Simplificando, podemos decir que, en nuestro país, la derecha es pro-española, y la izquierda mayoritariamente defensora de la identidad y de los derechos galegos. En la actual crisis, ese principio está siendo confirmado y Galiza es uno de los territorios integrados en el Estado español que más está saliendo a la calle, movilizándose contra la ofensiva reaccionaria que lidera el Gobierno español. Es claro que el grado de movilización aún no es suficiente para modificar la correlación de fuerzas, pero Galiza están presentando una significativa resistencia a los planos aplicados por el gran capital europeo y español contra nuestro pueblo.

La coordinación con otras naciones del Estado español, existe, pero acostumbra a ser dificultada por el afán dominador existente en las direcciones partidarias y sindicales de la izquierda centralista española, poco respetuosa en relación a la realidad y a los ritmos diferentes que la diversidad nacional impone.

Causa Operária: ¿Cómo el ascenso de los movimientos independentistas en las comunidades refleja la crisis política del Reino Español?

Maurício Castro. como he dicho, las luchas nacionales en el interior del Estado español vienen ya del siglo XIX y nunca se detuvieron. La dictadura franquista (1936-1975) fue en gran medida una brutal respuesta de la clase dominante española contra esas luchas por la emancipación nacional, sobre todo en el País Vasco, Cataluña y Galiza. En nuestro país, esa dictadura militar provocó muchos miles de muertos, desaparecidas/os y represaliadas/os, liquidando los sectores más comprometidos con el progreso y con la libertad de nuestro país. Sin embargo, la lucha ha continuado hasta hoy, una vez que la restauración monárquica que siguió a la dictadura también dejó sin resolver la cuestión nacional.

Es verdad que la crisis sistémica capitalista en curso está mostrando como la oligarquía española aplica, a través de los gobiernos a su servicio, no sólo los programas de cortes sociales, sino también una planificada recentralización para intentar imponer la españolización a los pueblos sometidos por el imperialismo español.

En esa medida, los sectores de las burguesías vasca y catalana favorables a la soberanía de esas naciones están reclamando la independencia, respondiendo a un ansia popular mayoritaria en el caso de esas dos naciones. En el caso galego, con la burguesía totalmente doblegada ante la poderosa oligarquía española, son los sectores populares que mantienen las reivindicaciones nacionales, uniéndolas a una salida a la crisis opuesta a los intereses de las transnacionales y del capital financiero.

Causa Operaria: ¿Cual es la situación actual del movimiento independentista galego? Como podría ser comparada con la situación en Cataluña y en el País Vasco?

Maurício Castro: El rasgo distintivo galego en relación al catalán y al vasco es la presencia de una burguesía totalmente vendida al núcleo del poder español impuesto a nuestro país. Contrariamente a Cataluña y al País Vasco, donde las burguesías están divididas entre segmentos pro-españoles e independentistas, lo que convierte la reivindicación nacional más transversal, en Galiza la reivindicación independentista está sólo en manos del pueblo trabajador.

Además de esto, Galiza cayó históricamente más temprano bajo el dominio castellano-español, siendo sometida a un proceso más prolongado y brutal de sometimiento nacional.

Ese proceso histórico no consiguió liquidar los rasgos objetivos que definen Galiza como la nación más claramente diferencial relativamente al padrón español, pero si trastocó seriamente el componente subjetivo, que es el más importante a la hora de hacer viable un proceso de construcción nacional.

Esto explica que el galego hoy sea un pueblo claramente diferenciable desde el punto de vista objetivo, en sus rasgos lingüísticos, culturales, hasta geográficos y climáticos en el entramado peninsular. Sin embargo, nuestro pueblo arrastra en simultáneo una condición típica de contextos coloniales, definida como de "auto-odio" o " auto-negación", viendo como las élites nacionales niegan nuestra condición nacional y se entregan a los intereses de nuestros enemigos históricos.

La lucha por la independencia galega enfrenta así mayores dificultades que la vasca y catalana. Además de esto, las clásicas divisiones de la izquierda se reflejan en un movimiento por la soberanía galega también fragmentado y castigado por una implacable represión por parte del Estado español.

Causa Operaria. En su opinión ¿Cuál es el impacto que el movimiento independentista en el Reino español podrá tener sobre los demás países de la Unión Europea donde existen problemas nacionales pendientes?

Maurício Castro.La presencia de conflictos nacionales no es exclusiva del Reino de España. En toda Europa Occidental existen conflictos como consecuencia de los imperfectos procesos de formación de los estados-nación a partir de lo que el antropólogo Benedict Anderson denominó "capitalismo editorial", en el siglo XVI.

Los pueblos marginalizados por tales procesos lucharon con diferente fortuna por su sobrevivencia, consiguiendo algunos de ellos la emancipación en relación a espacios estatales mayores a lo largo de los siglos siguientes.

Algunos de los que no lo consiguieron, como Galiza, han mantenido esa lucha hasta la actualidad. Tenemos el caso irlandés, cuya independencia (parcial) sólo fue conseguida en 1921, pero también otros que continúan en ese camino por la libertad nacional, como Escocia, Córcega, o Flandes. Se trata, por lo tanto, de una problemática continental abierta y que, naturalmente, provoca influencias mútuas entre los diferentes escenarios de enfrentamiento.

El actual avance por parte de Cataluña o de Escocia hacia posiciones de independencia puede ayudar a que otras naciones oprimidas también experimenten progresos en el factor subjetivo, imprescindible para que la condición de dependencia objetiva acabe por quebrarse.

Causa Operaria: ¿Querría hacer algún comentario final?

Maurício Castro: Quiero agradecer el interés sobre la cuestión nacional galega, ya que, como ustedes bien saben, es un asunto mal conocido en Brasil y a veces identificado con posiciones reaccionarias, lo que en el caso galego es una grave distorsión de la realidad.

Es fundamental para nosotros, galegos y galegas, conseguir que el pueblo brasileiro tome conciencia de la existencia de nuestro pueblo y de la identidad lingüística que nos une a Brasil.

La solidaridad brasileña con la causa del pueblo galego puede contribuir de manera determinante a nuestra emancipación en el camino de la independencia y del socialismo.

Por eso hago un llamamiento a las diferentes corrientes de la izquierda revolucionaria y al conjunto del pueblo trabajador brasileiro para que conozca nuestra realidad y apoyo nuestra lucha. Galiza-PCO -"somos la nación oprimida que en términos objetivos más necesita recuperar la plenas soberanía nacional, la independencia".

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