lahaine.org
Nacionales Galiza :: 23/12/2018

Umha cidade desmantelada, umha vizinhança deslocada

Galiza Livre
Compostela, una ciudad desmantelada, una vecindad trasladada

O comercio de ferragens Casas Chico que está na Rua de Casas Reais, em Compostela, vai pechar depois de 160 anos aberta. No seu lugar vai abrir um novo local de restauraçom, em concreto umha nova taberna gastronómica. Umha mais. Um trás outro vam pechando todos os estabelecimentos históricos do casco velho da cidade que estavam dedicados a negócios tradicionais, para converterem-se pouco a pouco em albergues para peregrinos, hospedarias, hotéis, bares, cafés, restaurantes e lojas de souvenires.

A turistificaçom da cidade velha

A cidade está a virar em um escaparate turístico do mais inabitável. O tipo de lojas que precisa a populaçom local para o seu dia a dia está a pechar. Ultramarinos, carniçarias, peixarias, frutarias, livrarias, quiosques, lojas de roupa, sapateiros, comércios de ferragens, barbeiros, pecham a diário e apenas fica algumha sobrevivente. E os bares já nom som as tradicionais tabernas onde beber vinho e falar cos vizinhos, som locais com o preçário em quatro idiomas -nenhum é o galego- e o menu do dia a quinze euros, bebida aparte.Parelho ao peche dos comércios tradicionais, estám a dispararem-se os preços dos alugueres, e nom só no casco histórico, mas também nos bairros próximos. Segundo dados de um conhecido portal imobiliário, o prezo do aluguer em Compostela passou no que vai de ano de apenas superar os 500 euros mensais, a alcançar atualmente os 728 euros (dados do mês de novembro de 2018), o que implica um incremento de quase o cinquenta por cento. A que é devido? Aquelas vivendas baleiras que poderiam destinar-se a acolher umha nova família, destina-se pola contra ao seu arrendamento turístico, pois ao alugar-se por dias, o proprietário pode tirar-lhe um lucro maior. Se procurares na web de Airbnb podem-se encontrar mais de 300 casas destinadas a uso turístico no casco histórico, com um preço médio que supera os 60 euros por noite. Em Booking, há mais de um cento de hospedagens registradas, cifra que se duplicou no último ano.

A gentrificaçom dos bairros

Foi em 1964 quando o sociólogo Ruth Glass empregou a expressom “gentrificaçom” pola primeira vez. Ele aproveitou a termo inglês “gentry”, que se refere à pequena nobreza rural britânica, para fazer referencia às famílias de classe media que se trasladavam em massa ao centro de Londres onde vivera tradicionalmente a classe obreira. A nova vizinhança, de maior poder aquisitivo que as pessoas que lá viviam, arranjarom e rehabilitarom as vivendas e os bairros do centro da cidade, incrementando-se os preços dos alugueres e do custe da vida em geral. Á larga, viver no centro era demasiado caro e as famílias mais pobres tiveram que trasladar-se de bairro.

Atualmente pode definir-se a gentrificaçom como o processo de apropriaçom de um bairro por um grupo social que nom o habitava previamente, o que implica a expulsom da populaçom originaria do bairro. A gentrificaçom também pode ser entendida como um conceito polissêmico que intenta explicar um conjunto de mudanças arquitetônicas, urbanísticas, económicas, sociais e culturais que sofrem determinadas zonas urbanas associadas principalmente à mercantilizaçom da habitaçom, e como este processo traze consigo umha serie de desigualdades sócio-territoriais em prejuízo do bem-estar das classes populares e em proveito dos grupos sociais de maior poder aquisitivo, que podem ser umha nova classe média, a pequena burguesia, profissionais criativos ou mesmo turistas.

Em algumas cidades, este processo é planificado por agentes do setor imobiliário e a aliança ente os governos locais e os agentes económicos é mais clara. Nestes casos há um deterioro prévio da zona, às vezes provocado intencionadamente, para logo fazer umha posta em valor. Em outros casos, o processo de gentrificaçom é iniciado pola chegada de profissionais culturais, pessoal universitário, artistas ou trabalhadoras sociais, que nom procuram iniciar nenhum processo de gentrificaçom, mas nom podem controlar os efeitos que provoca a sua presença no bairro. E mesmo pessoas ou coletivos preocupados pola gentrificaçom podem chegar a provoca-la, como por exemplo, a instalaçom de um novo centro social ocupado que aumente e diversifique a oferta cultural do bairro. (Um claro exemplo disto é o bairro de Kreutzberg em Berlim). A maioria das vezes os processos de gentrificaçom som umha mistura de ambos os dous modelos.

Em qualquer caso, seja um procedimento urbanístico mais premeditado ou umha conversom involuntária, os beneficiados som sempre os mesmos, os agentes imobiliários e os grandes proprietários de vivendas. Como se pode ver, nom se trata de um processo neutral, pois contraponhem-se os interesses dos diferentes grupos sociais que estám em jogo. O traslado das classes populares fora do seu bairro produze um sentimento de desarraigo pois som deslocados dos seus lugares de memoria, das suas referencias espaciais comuns e das suas relaçons sociais mais importantes.

No caso de Compostela, como na maioria dos casos de gentrificaçom em cascos históricos, este processo é provocado por dous aspetos relevantes, umha turisficaçom massiva e umha revitalizaçom cultural. Ambas, neste caso, impulsadas pola Administraçom.

 

Este sitio web utiliza 'cookies'. Si continúas navegando estás dando tu consentimiento para la aceptación de las mencionadas 'cookies' y la aceptación de nuestra política de 'cookies'.
o

La Haine - Proyecto de desobediencia informativa, acción directa y revolución social

::  [ Acerca de La Haine ]    [ Nota legal ]    Creative Commons License ::

Principal