lahaine.org
Nacionales Galiza :: 06/06/2012

Autogestom assembleária, juventude armada e erotismo na Galiza de 1920

Vicente Risco
O costume de reunir-se para sair de noite continua. Na época a que se refire esta informaçom, no inverno, visitavam os fiadeiros.

O concelho paroquial era, e suponho que continuará a ser, umha instituiçom viva e de grande sentido comunal. Constitue-no todos os vizinhos cabeças de família, convocados e presididos polo pedáneo, e entendia na conservaçom, reparaçom e quenta do forno do comum, as suas tandas, limpeza e utilizaçom dos regos, arranjo de caminhos, nomeamento e pago do sacristám, irmandade da cera para as ánimas e a igreja, pastoreio das cabras e ovelhas e demais assuntos de interesse vizinhal. Para convocá-lo e circular as ordens e acordos havia um "zelador", às ordens do pedáneo; mas, aparte do aviso, à hora marcada, chamava-se aos vizinhos por médio do sino da igreja. Quando o sino soava umhas bateladas especiais, dizia a gente: Tocam a concelho. Adoitavam assistir pontualmente todos os cabeças de família, sem faltar um, e mesmo o que se encontrava impedido ou ausente adoitava mandar umha pessoa da família fazer ato de presença, ainda que nom pudesse votar.

As reunions celebravam-se no forno do concelho, na Pereira, ainda que havia outro forno em Sabariz. Havia adoito grandes disputas; ali -diziam- saia todo a reluzir. Mas, mália que alguns se incomodassem às vezes, os acordos eram acatados.

Censuravam-se os costumes dos moços, especialmente o de andar armados; agachavam as armas nas paredes ou escondiam-lhas as noivas. Antes havia muitas pelejas, mas eram a paus, e agora som com armas de fogo, diziam os velhos. Claro que isto de levar armas, muitas vezes é por fachenda nada mais. Saem muitos juntos dum lugar a outro e, ao sairem de candansua casa, esgutiam (é dizer, lançam o berro conhecido com o nome corrente de aturujo) para chamar-se, ou disparavam tiros. Os tiros vam em som de desafio e ameaça.

Estas manifestaçons de instinto bélico e de afetada bravura, tam próprias da juventude, tenhem o seu reverso nas trampas que se lhes aponhem polos nossos informantes, empregadas para eludir o serviço militar: botar tabaco nos olhos para fingir umha conjuntivite granulosa, dormir na corte para nom dar a talha, etc. Esta repugnáncia ao serviço é mui geral, e nela soem colaborar as famílias. Sentem o instinto bélico, mas temem a disciplina. Sentimos nom possuir informaçom acerca das associaçons de moços nesta comarca; sabido é que nelas é onde se pretende ter-se incubado a disciplina militar primitivamente, ao aparecer um chefe arredor do qual se forma um séquito de jovens guerreiros que lhe juram fidelidade. Disto ficam supervivências nos costumes rurais de toda Europa, mais ou menos pseudomórficas. Na Galiza existe ainda o instinto de solidariedade entre os moços e a tendência a aceitar a chefatura dum deles, que aparece como o gallito em todas as ocasions. Isto manifestava-se em forma agressiva, há uns sessenta anos, nas verdadeiras batalhas entre paróquia e paróquia, que se armavam nas festas. A gente de idade desculpava e mesmo chegava aprovar a luita a paus, mas condenava, escandalizada, o emprego de navalhas e pistolas mui frequente em certa época.

O costume de reunir-se para sair de noite continua. Na época a que se refire esta informaçom, no inverno, visitavam os fiadeiros. Sabido é que estes som reunions de mulheres moças, casadas e velhas, que se juntam para fiar, numha corte, de noite, pagando a escote o óleo para o candil. O tempos dos fiadeiros, nesta comarca, é desde mediados do inverno até terça feira de Carnaval; desde esse dia nom os volve haver. A metade da sessom chegam os moços (também soem ir homens casados) e bailam ao som do pandeiro ou de instrumentos improvisados: umha lata, umha caçola, e divirtem-se com representaçons de comédias rudimentárias: Jogos dos casados, Arrinca-te nabo, Pincha sapo (que é o jogo dos nenos chamado "à umha anda a mula" -pinchar significa saltar-), a Mula, formada por dous moços que correm detrás das moças ou as fam montar nela, e jogos de prendas, como o de Perdim o pano - pano de seda - perdim o pano - e eiqui me queda... As prendas, afinal, rifam-se ou pojam-se por elas. Os curas combatem constantemente o costume dos fiadeiros polos abusos a que dam lugar, mas sem êxito.

Em questom de amores é costume pedir à pretendida a palavra de amor e, umha vez obtida, umha prenda, que soi ser um pano. Às vezes começa o noivado roubando-lhe o pano à moça. Para aprender a falar com as rapaças, usam os Libros de cortejar. A palavra autoriza para acompanhar a moça.

As raparigas adoitam dar a palavra a vários moços, e todos eles vam falar com ela à sua casa, na porta ou dentro, no sobrado, sem que estejam presentes os pais. Em ocasions vam entrando por vezes, e enquanto um está dentro, os outros ficam fora aguardando. Outras vezes, a moça deixa dentro a dous ou três e sai à porta falar com o preferido.

 

Este sitio web utiliza 'cookies'. Si continúas navegando estás dando tu consentimiento para la aceptación de las mencionadas 'cookies' y la aceptación de nuestra política de 'cookies'.
o

La Haine - Proyecto de desobediencia informativa, acción directa y revolución social

::  [ Acerca de La Haine ]    [ Nota legal ]    Creative Commons License ::

Principal